a ilusão do turista

a ilusão do turista preconiza sair de um lugar
a ilusão do turista diz respeito a visitar
conhecer algum lugar
estar num lugar não seu…

a ilusão do turista diz respeito a suspensão
a ilusão do turista diz respeito a evitar o não
diz que não, para ter o não, não, ah! o não!
diz que sim para fugir de si…

a ilusão diz respeito a espaço
a ilusão diz respeito a tempo
a ilusão faz-se em respeito a lugar
a ilusão requer um ser e estar

diz que quando nos transportamos
na verdade nos teletransportamos
suspendemos problemas, dores e anseios
por uma vaga ilusão de passeio

passeio para fora, para longe do agora
me projeto para uma praia, sítio, cachoeira ou floresta…
postos nestas formas de fuga para fora…
embora, quantas delas sejam, assim como dizem: tão da hora!

a ilusão do turista não está ligada ao dinheiro
à compra momentânea do pacote turístico e seus benefícios
não está na disposição de quem vai te atender como turista (nativo)
a ilusão está no fato de que sua cegueira te projeta pra fora (de si)

pra fora da sua cidade, sua rotina
da sua plenitude do Eu
e em um lugar calmo e tranquilo aqui e ali
sua ansiedade e pânico se afloram, continua com você…

é uma fuga geográfica, passageira
mas superficial e traiçoeira:
você está fora da muvuca
mas a muvuca esta dentro de você

a agonia que te aprisiona
não tem dinheiro que tira
não tem rede (na varanda) que refreie sua insônia
não é a praia, fazenda ou retiro…

você está lá, mas não está (foco)
você merece a paz e o silêncio
mas seu coração e mente não estão lá (dispersão)
sua alma agoniza por barulho

seu corpo treme por agitação
foi condicionado, medicado
tentado e até doutrinado
a sofre no caos da agitação

não se trata de contemplar a montanha
ouvir o fluir das águas
sentir a brisa do mar ou das gotículas
do sereno da madrugada

o nada é silencioso
e pleno de tudo
de energia, significado
e não discurso verbalizado

é um encontro silencioso e ensurdecedor
é um encontro com o Eu que você não vista há tempos
é uma visita super dolorosus (de sentir dor)
é um tempo que não costuma gastar com você mesma

é uma onda de natureza para natureza
mas há tempo, você não se conecta com ela
e ela é barulhenta e estranha (a natureza)
apesar de silenciosa, manhosa e mansa

é uma conexão tóxica que te entope os ouvidos
te ensurdece a alma e os pensamentos
treme seu corpo somente com o silêncio
o turista não é turista de um lugar, mas de si mesma

não se trata de ir pro interior, pra praia
pro Sul o pro Nordeste do Brasil
se não há canto em sua mente e coração para repousar…
qualquer geografia pra si, é perdição

és um turista perdido de si
perdido de sua alma, de sua alegria de viver
de suas coisas particulares
de suas sujeiras vulgares…

no turismo, a cidade se prepara pra mentir ao te receber…
o turista prepara-se para mentir (sobre quem és)
mente que são acolhedores (como nativos)
mentem que são visitantes corteses (como visitantes)…

no fim não há lugar para onde escapar
que não seja sua mente, seu coração e sua alma
os únicos dignos da verdade imaculada
do que já em seu silenciar, sejan nativo ou turista!

de verdade, de alma
pensamentos e sentimentos
porque na agonia de um escritório
ou na tranquilidade de uma cachoeira

não há lugar, oh humanos para onde escapar!
senão para dentro de vós
para o canto mais sagrado da sua existência:
sua mente e seu coração

a paz que vês fora, é algo que já tens dentro
seja com ou sem viagem
seja lá ou cá, com ou sem férias
a paz é um modo de ser e estar

o turista é um iludido
turista de si
turista de lugar
turista de ser e estar em estado puro de simplesmente: amar.

a natureza biológica de um lugar
suas matas, águas, minerais, pedras, cachoeiras
os animais do lugar, nunca mentirão
sobre quem ele receberão

os humanos são os únicos nessa equação
que estão perdidos em seu habitat
seja como nativos, turistas ou passageiros
de uma navegação chamada vida

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Escrito por conscienciando
Conscienciando é um blog que traz consciência através de artigos sobre diversos campos do conhecimento e experiência humano.