Viver de sexta-feira
Se você for viver somente de sexta-feira, não viverá
Estará vivendo pra fora, logo, sobrevivendo
A sexta, esperada sexta
É somente uma data farseira
A chegada do fim
Fim em forma de chegada
Não se trata de uma data
É um estilo de errata
Nela você retrata
Suspende o eu
Na sexta-feira não sou mais eu
Sextou porque preciso suspender o eu
As tarefas que faço são o “eu” temporário
Não quero ser o eu tarefeteiro semanal
Ele me coloca em suspensório temporário
Suspendo quem penso ser durante a semana
Um eu artífice de algo que nem gosto
Oh, a sexta-feira! Bendita seja!
Maldita é: descanso, balada, outra rodada!
Curtidas sócio idealizadas
Mas depois da sexta vem a desgraça
Caio de volta no eu com “e” menor
O ofício men chama de volta
Mas agora tô de ressaca
Nem bebi, é uma ressaca temporal
Trabalho no sábado, mas a sexta foi sabática
Estou de plantão no outro dia…
Fico a pensar na comida, bebida e dança de sexta
Que saudades da sexta-feira!
O ciclo semanal se repete:
E lá vou eu atrás da sexta-feira
Ávido como busco um boquete
É um prazer momentâneo visceral
A sexta-feira é o lixo que quero comer
Eu sou a comida para a sexta
Eu cato migalhas às sextas
Sextou e lá de novo estou: servido!
Não é moralismo barato analisar
Minha relação com a sexta
Ela é osciosa após o expediente
Não é uma condenação social ingrata
A sexta é prazerosa
Leve como uma névoa
Que me tira do sol
E me leva pro ar fresco imprevisível
Sexta-feira é meu dia!
Nela eu brilho, me arrisco
Me mutilho, me humilho
Saio de mim sem pensar na volta
O que seria de mim sem as sextas?
Sem a catarse física, moral e mental?
A sexta me limpa
Ela me suja, a sexta-feira
Tento me encontrar loucamente
Dentro de uma temporalidade finita
Deixo pra lá o que me esmaga e irrita
A sexta é meu templo de sacrifício
Até enquantrar ou Eu que busco
Vou achando na sexta-feira o expurgo
Um lugar de queima divina
Do meu eu diabólico
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